Caso Edmar Moreira
Declaração de Sérgio Moraes em defesa do deputado do castelo é criticada por especialistas
Publicada em 07/05/2009 às 19h08m
Thais Lobo e Marcelo Alves
RIO - Um dia após o deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), relator do processo de cassação no Conselho de Ética do deputado Edmar Moreira (sem partido-MG), afirmar que está "se lixando para a opinião pública" , especialistas ouvidos pelo site do GLOBO divergiram sobre quais efeitos os escândalos podem ter na reeleição de políticos. Mas foram unânimes em condenar a declaração.
A polêmica afirmação foi feita quando Moraes disse que não havia como provar a denúncia contra Edmar, acusado de usar a verba indenizatória para contratar serviços de sua própria empresa de segurança e ficou conhecido por ter um castelo avaliado em R$ 25 milhões no interior de Minas . Nesta quinta-feira, Moraes voltou a defender Edmar e criticar a imprensa em entrevista à rádio CBN e em discurso no plenário da Câmara . ( Ouça a íntegra da entrevista com o Sérgio Moraes na CBN )
O cientista político do Iuperj Marcos Figueiredo considerou as declarações de Moraes lamentáveis.
" Ele parece estar reproduzindo o personagem do Chico Anysio (Justo Veríssimo) que era um deputado que falava sempre assim: 'Quero que o povo se exploda' "
- Ele parece estar reproduzindo o personagem do Chico Anysio (Justo Veríssimo) que era um deputado que falava sempre assim: 'Quero que o povo se exploda'. É lamentável - disse Figueiredo, que, não acredita que a maioria do Congresso pense da mesma forma que Moraes.
- O Congresso é muito cioso com a opinião pública. É ele (Moraes) que corre risco. Seus adversários políticos podem acabar com ele na próxima eleição.
Para Ricardo Ismael, coordenador do Departamento de Sociologia da PUC-Rio, os políticos que ignoram a opinião pública estão se arriscando, já que mesmo o brasileiro mais humilde está preocupado com as questões éticas.
" Ele está achando que a questão não vai respingar nele. Mas teria que assumir uma postura diferente "
- Acho que a declaração é porque ele, na verdade, está conduzindo um processo sobre o Edmar. Aparentemente, ele fica mais invisível para os eleitores do Rio Grande do Sul. Ele está achando que a questão não vai respingar nele. Mas teria que assumir uma postura diferente. Primeiro fazer uma investigação rigorosa e não antecipar o julgamento. - afirmou - Os políticos podem não querer admitir isso publicamente, mas ficam preocupados em ter seus nomes envolvidos em escândalos, principalmente se isso sai na mídia estadual, no âmbito onde vai tentar a reeleição.
Gaudêncio Torquato, da Universidade de São Paulo (USP), disse que, se Moraes está "se lixando para a opinião pública", o efeito contrário pode acontecer nas eleições do ano que vem.
- Não se brinca com a opinião pública. Ele pode estar se lixando, mas pode haver um efeito bumerangue. Duvido que ele diga isso novamente. A opinião pública é o termômetro do país e afere a temperatura social. Se o eleitor tiver acesso a esse tipo de desprezo, evidentemente ele pagará o preço.
Moraes responde a oito ações no STF
" Ele pode estar se lixando, mas pode haver um efeito bumerangue "
Segundo o site "Excelências" da ONG Transparência Brasil, Moraes responde a duas ações por crime de responsabilidade no Supremo Tribunal Federal (STF) relativas ao seu mandato como prefeito em Santa Cruz do Sul. No total, tramitam no STF oito processos contra o deputado. Quatro se transformaram em ação por crime de responsabilidade e quatro estão em fase de inquérito.
Em 2008, para entrar em conformidade com a súmula do STF que proibiu o nepotismo, o deputado teve que exonerar sua irmã e sobrinho, empregados como assessores em seu gabinete. De acordo com o "Excelências", Moraes ainda faltou a mais da metade das comissões permanentes e especiais em que é titular.
Torquato: 'O Congresso vive um dos piores momentos de sua vida'
" Eu acompanho política há mais de 30 anos e nunca vi uma bateria tão sequencial (de denúncias) "
Para Torquato, as declarações de Moraes se juntam à sucessão de escândalos que o Congresso viu neste ano e o fazem "descer mais um degrau em direção ao fundo do poço". Somando isso às fortes divergências públicas no Supremo Tribunal Federal (STF) , quem ganha, para o cientista político, é o Poder Executivo.
- Eu acompanho política há mais de 30 anos e nunca vi uma bateria tão sequencial (de denúncias). O Congresso está vivendo um dos piores momentos de sua vida. A imagem está enlameada. E quanto maior a distância, mais emergem as entidades chamadas intermediárias, como as ONGs, e o Executivo, que é quem ganha mais. O Lula torna-se ainda mais forte e isso gera uma fratura no sistema tríplice do poder. Numa situação como essa, o sistema de pesos e contra pesos se quebra diante de uma crise.
Efeito das denúncias é pequeno, diz Ricardo Caldas
O cientista político da UnB Ricardo Caldasm porém, acredita que o efeito das denúncias é pequeno junto ao eleitorado. Ele afirma que poucos se lembram dos delitos cometidos por políticos na hora da votação e a opinião pública tem um controle muito baixo sobre os parlamentares.
- O que ele falou não é pensamento só dele. Os políticos no Brasil não precisam prestar contas à opinião pública porque a sociedade é pouco mobilizada, não exige uma postura, não faz cobranças. A opinião pública acaba se materializando nos jornalistas. A imprensa é o rosto, braço e pernas da opinião pública - disse Caldas, afirmando que só alguns políticos conseguem ignorar a opinião pública em escândalos e ainda assim se reeleger.
- Só é possível para os políticos que compram votos. Para os outros, é suicídio.
Marcos Figueiredo acredita que tudo depende da natureza da denúncia.
" A desconfiança aos atuais mandatários cresce e no mínimo esses políticos vão ter mais dificuldades para se reeleger "
- Há vários casos (de deputados que não conseguiram se reeleger). Taí o Severino (Cavalcanti, ex-deputado). Ele também disse que se lixava para as eleições e hoje é prefeito de uma cidade pequena (João Alfredo, no interior de Pernambuco) - disse Figueiredo, que concorda apenas em parte com Moraes quando ele diz que a opinião pública não acredita no que a imprensa escreve.
- Quando é perguntado o grau de confiança em pesquisas que fazem a avaliação da imprensa, ele fica entre 50% e 60%. Tem pelo menos 40% aí que não confiam na imprensa.
Ismael disse que casos como o da farra das passagens mostra que a prestação de contas com a opinião pública é importante, a exemplo da postura do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) e do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) . Para ele, os escândalos envolvendo parlamentares podem ajudar na renovação do quadro político.
- A desconfiança aos atuais mandatários cresce e no mínimo esses políticos vão ter mais dificuldades para se reeleger. O eleitorado vai procurar novos políticos - afirmou Ismael, lembrando de casos como o do ex-ministro da Saúde, Humberto Costa, que teve sua candidatura ao governo de Pernambuco em 2006 implodida após denúncias de envolvimento em esquema de fraudes para compra de medicamentos .
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